terça-feira, 8 de setembro de 2015

OS AUTO-RETRATOS E A BOA GESTÃO DAS FONTES DOCUMENTAIS DO FUTURO :)


(imagem adaptada a partir de um auto-retrato de Helena Almeida e de um escrito anónimo registado na página de facebook "O que diz Lisboa)
É urgente libertar os historiadores do futuro da pressão das biografias de um sem número de “individualidades” cujo registo corpóreo (integral ou parcial, a preto e branco e a cores, artístico ou quotidiano) nos inunda a diário os monitores e se não paramos já acredito que irão inevitavelmente ocupar os futuros arquivos e museus (pelo menos no nosso pequeno país). Que me desculpem os fãs das “selfies” mas a mania transformou-se numa maldição! O tempo estival é propício à contemplação e o corpo humano é uma maravilha! Suponho que estes lugares comuns são mais ou menos indiscutíveis. Mas a publicação da relação individual com o espelho que o auto-retrato supõe sugere-me outras inquietações… talvez a mais difícil de desmontar seja provocada pelo abissal contraste entre o dramático cenário que nos envolve enquanto colectivo e o individual encantamento embevecido que a esmagadora maioria dos auto-retratos “espelha”?! Como é possível? Como é que se consegue tanta auto-satisfação? Não será pernicioso estarmos a assoberbar-nos de nós próprios? Não pretendo entrar em questões claramente anacrónicas sobre vícios e virtudes mas desde quando é que a vaidade passou para o lado bom? Na interpretação do fenómeno tentei outras justificações que ultrapassem a simples vaidade individual e me ajudem a entender esta obsessão contemporânea. Pensei na solidão, na vontade de agradar, no auto-conhecimento e até em práticas terapêuticas (que em auto-retrato pretensamente artístico substituí por processos catárticos). Todas estas justificações serão melhor desculpa para este fenómeno que a vaidade mas mesmo assim parecem-me pretextos curtos para tanta e tão variada auto-representação…
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